Responsabilidade Subjetiva ou Irresponsabilidade Subjetiva

“Qual sua responsabilidade na desordem da qual você se queixa?” ou “O sujeito é responsável pelo seu próprio gozo”. Essas frases estão presentes no meio psicanalítico para explicar a tal da “responsabilidade subjetiva”. Afinal, para muitos o paciente deve “implicar-se”, deve se responsabilizar pela queixa, pelo que fala, pelo que sente e pelo que pensa.

De acordo com Eidelsztein, o termo responsabilidade subjetiva tem origem na teoria do direito que significa “aquela em que a culpa é atribuída ao indivíduo que realiza a conduta em questão sem dolo, nem intenção, e que deve reparar o dano” (p. 41).

Ao localizar a origem e significado do termo “responsabilidade subjetiva” é mais fácil de compreender a intenção por trás de seu uso na psicanálise. Se o psicanalista opera numa lógica individualista e neoliberal, consequentemente, enxerga seu paciente enquanto um indivíduo que não está inserido em uma sociedade. Portanto, as queixas, as falas, os sentimentos e pensamentos são exclusivamente responsabilidade do paciente.

Esses psicanalistas acham que estão possibilitando ao paciente implicar-se, mas, na verdade, é apenas culpabilização do sujeito por questões inconscientes, sociais, econômicas e políticas. Trabalham a serviço de um sistema que cada vez mais responsabiliza as pessoas pelas violências das quais são vítimas.

O paciente tem um nome, uma raça, um gênero, uma classe, uma cultura, uma orientação sexual, um corpo… tudo que o paciente fala, parte de um lugar e, se não entendemos, que lugar é esse e quem é esse sujeito, mais uma vez reproduzimos violências.

No que o paciente precisa implicar-se? Por que? E pra que?

Qual a dificuldade de ouvir as contradições e as vulnerabilidades que esse SUJEITO traz para a análise? Deixemos que o paciente fale, deixemos que o paciente seja um sujeito.

Ao invés de falar na responsabilidade do paciente, vamos falar da responsabilidade do analista e da teoria.

Referência

EIDELSZTEIN, A.; KUSHNIR (TRADUTORA), C. Q. A “responsabilidade subjetiva” em psicanálise. Fractal: Revista de Psicologia, v. 33, n. 1, p. 41–46, 17 mar. 2021.

Piettra Maschio da Silva

CRP 06/189254